Wednesday, November 10, 2010

Poeiras assopradas

Nunca me dei bem com as ciências exatas. Não havia de me dar bem com as ciências exatas.
Que dizer de como penso, se no tempo em que pensava, era tão infeliz.
Pinto, Recorto, Desfaço. E continua: mesma plantação de soja que transborda pela retina. E não quero ver.
Mas quando sonhei, e era futuro, o futuro era tudo que hoje me falta. Nunca vi mágicos anos chegarem.
Que dizer de como penso, se desse estado de insônia saíram - me tantos modos, tantas vidas, que queria poder contar. Mas não me dou bem com as palavras. Que dizer do romper de vidas que jamais foram minhas?
Amanhã, vou consultar meu guarda - roupa. Vai estar vazio. Vazio de vestes, de cores, de mim.
Guarda-roupa velho, mofado, apodrecido.
Tenho apenas esses dias de ausência. Nenhum adorno. Nenhuma vontade.
As Letras não suportam esses garranchos. Meus rascunhos estão por ai, sobre a mesa, para serem lapidados. Jamais os lapidarei.
As Exatas não suportam esses delírios. As deduções matemáticas estão por ai, sobre a mesa, para serem entendidas. Jamais as entenderei
O que espero ao abrir a porta: encontrar só mofo e escuridão com ácaros e pequenas baratas. Resta, o que não fiz pela ciência, e a obra literária rumo à lixeira.
São Carlos, agosto de 2001.

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